terça-feira, 27 de maio de 2014

O papel da repressão na sociedade

O seguinte artigo tem por objetivo desenvolver o conceito de “repressão” tendo por base a conceitualização dada a partir das obras, “O Mal estar da civilização” de Sigmund Freud e “Eros e Civilização” de Hebert Marcuse, explicitando o que o psicanalista Dr. Sigmund Freud e o filósofo Hebert Marcuse pensam acerca da repressão e suas respectivas perspectivas e abordagens.
    1. Freud: O Mal Estar na Civilização
O Mal-Estar na Civilização foi escrito por Freud em 1930 sendo parte da coletânea de textos que marcam uma nova fase no seu pensamento, na qual ele se distancia dos seus estudos clínicos, centrados no indivíduo, para pensar questões relativas à humanidade, à relação indivíduo e sociedade.
Freud não distingue civilização de cultura, ele define civilização sendo tudo que difere o homem da vida animal, que o afasta da sua natureza. Em o “O Mal-Estar da Civilização” (1930) Freud apresenta o fato de a cultura produzir um mal-estar nos seres humanos. Sendo assim, para o bem da sociedade o indivíduo é sacrificado. Para que a civilização possa se desenvolver o homem tem que pagar o preço da renúncia da satisfação pulsional.
Freud assevera que a civilização tem como tarefa evitar o sofrimento e oferecer segurança, colocando o prazer em segundo plano. Em função do fato da satisfação pulsional ser sempre parcial as possibilidades de felicidade tornam-se restritas.
A Libido reprimida assume três modalidades de manifestação:  princípio de destruição, agressividade e realização do prazer (nazismo, fascismo, massacres, destruição da natureza...).
As pulsões agressivas do homem encontrariam limites, de acordo com Freud, quando a agressividade não pode ser liberada, então ela é internalizada, dirigida ao próprio ego. Assim, uma parte do ego se coloca contra o resto do ego, na forma de superego. É a partir do conceito de superego que Freud passa a desenvolver o termo sentimento de culpa, apontado por ele como um aspecto central da relação do indivíduo com a cultura.
Denomina-se como sentimento de culpa a tensão entre o ego e o superego, onde existiria uma necessidade de punição.
Há uma estreita relação entre a civilização e o sentimento de culpa. A civilização só alcança o objetivo de manter os seres humanos ligados através de um crescente fortalecimento do sentimento de culpa, desenvolvendo um superego cuja influência produz a evolução cultural.
A civilização desempenha o papel repressor, uma função de restrição sobre o ser humano. É esta função restritiva que garante a ultrapassagem de um estado primitivo de relação social para o estado de sociedade, preservando a manutenção e o desenvolvimento da civilização ao longo da história da humanidade.
Por fim, para Freud, a civilização é construída sobre a renúncia do homem a pulsão.

   2. Hebert Marcuse: Eros e Civilização
O autor de Eros e Civilização, Herbert Marcuse, foi um dos integrantes da Escola de Frankfurt e herdeiro de uma corrente de tradição marxista, que após sofrer abalos nas suas esperanças revolucionárias como resultado do apoio do proletariado alemão ao fascismo e a não ocorrência da revolução proletária, vão buscar uma reanálise da tese marxista.
Marcuse apresenta a repressão como um conjunto de restrições e de imposições que têm como finalidade obter e conservar a dominação. É um fenômeno sócio-político. Na teoria freudiana, a contenção do princípio do prazer pelo de realidade tinha um pressuposto: os seres humanos vivem em estado de penúria e precisam trabalhar para sobreviver. É preciso, portanto, que a libido não só seja reprimida para que energias se dirijam ao trabalho, mas também que o prazer aprenda a protelar-se e, em certos casos, a suportar frustrações definitivas. O trabalho podia, simultaneamente, tomar o lugar da libido para fins sociais úteis e podia também ser uma sublimação da libido, um meio para satisfazê-la indireta ou simbolicamente.
Para analisar a sociedade moderna, Marcuse reformulou e ampliou os conceitos freudianos para analisar seus componentes históricos e sociais, em que sua visão é voltada para o aspecto social.
O excesso de repressão á Eros e o crescente fortalecimento do sentimento de culpa conduziriam a sociedade a inverter o processo de repressão (esta sociedade repressora estaria criando os germes de sua própria destruição.
         Um recalque imposto pela sociedade é para que o trabalho seja aceito como valor e virtude central, sendo que, ocorre a dessexualização e deserotização do indivíduo – “destruindo” as múltiplas zonas erógenas que possui afirmando que qualquer estímulo a elas é imoral, perverso e criminoso –, reduzindo a sexualidade então a mera cópula com fins reprodutivos.
Por fim, para Marcuse, repressão é um conjunto de restrições e imposições que auxiliam a “domesticação” do Homem para o convívio em sociedade, indo além do recalque e da Contenção do Princípio de Prazer por exigências do Princípio de Realidade de Freud, nos quais há simplesmente uma demanda de sobrevivência do indivíduo – já na Repressão apresentada por Marcuse, a finalidade não é simplesmente a conservação da integridade e existência do indivíduo, mas da sociedade em primeiro lugar.

        Considerações finais
Pode-se fazer uma relação entre a teoria de Freud e de Marcuse no que diz respeito à repressão e suas consequências na sociedade. Foram apresentadas e abordadas as duas linhas teóricas que leva a correlação entre as teorias no que se diz respeito à repressão e sociedade.
Para Freud a diferença entre princípio de prazer e princípio de realidade corresponde à diferença entre um comportamento não reprimido e um comportamento reprimido. O princípio de desempenho marcuseano é a atual forma do princípio de realidade, sua atual forma histórica. Ele é característico do sistema capitalista, pois exige uma mais variada forma de repressão para manter a dominação.
Conclui-se que em Eros e Civilização, Marcuse se utiliza de conceitos psicanalíticos para uma melhor compreensão da repressão sexual, utilizada por nossa sociedade para sua auto-conservação e Sigmund Freud em “O Mal Estar da Civilização” apresenta fundamentos para a interpretação de Marcuse, ambos com perspectivas diferentes, sendo Freud uma perspectiva clínica e Marcuse uma perspectiva social.

terça-feira, 13 de maio de 2014

O mito da caverna

O Mito da Caverna, ou Alegoria da Caverna, foi escrito pelo filósofo Platão e está contido em “A República”, no livro VII. Na alegoria narra-se o diálogo de Sócrates com Glauco e Adimato. É um dos textos mais lidos no mundo filosófico.
Platão utilizou a linguagem mítica para mostrar o quanto os cidadãos estavam presos a certas crendices e superstições. Para lembrar, apresento uma forma reelaborada do mito. A história narra a vida de alguns homens que nasceram e cresceram dentro de uma caverna e ficavam voltados para o fundo dela. Ali contemplavam uma réstia de luz que refletia sombras no fundo da parede. Esse era o seu mundo. Certo dia, um dos habitantes resolveu voltar-se para o lado de fora da caverna e logo ficou cego devido à claridade da luz. E, aos poucos, vislumbrou outro mundo com natureza, cores, “imagens” diferentes do que estava acostumado a “ver”. Voltou para a caverna para narrar o fato aos seus amigos, mas eles não acreditaram nele e revoltados com a “mentira” o mataram.
Com essa alegoria, Platão divide o mundo em duas realidades: a sensível, que se percebe pelos sentidos, e a inteligível (o mundo das ideias). O primeiro é o mundo da imperfeição e o segundo encontraria toda a verdade possível para o homem. Assim o ser humano deveria procurar o mundo da verdade para que consiga atingir o bem maior para sua vida. Em nossos dias, muitas são as cavernas em que nos envolvemos e pensamos ser a realidade absoluta.
Quando aplicada em sala de aula, tal alegoria resulta em boas reflexões. A tendência é a elaboração de reflexões aplicadas a diversas situações do cotidiano, em que o mundo sensível (a caverna) é comparado às situações como o uso de drogas, manipulação dos meios de comunicação e do sistema capitalista, desrespeito aos direitos humanos, à política, etc. Ao materializar e contextualizar o entendimento desse mito é possível debater sobre o resgate de valores como família, amizade, direitos humanos, solidariedade e honestidade, que podem aparecer como reflexões do mundo ideal.
É perfeitamente possível relacionar a filosofia platônica, sobretudo o mito da caverna, com nossa realidade atual. A partir desta leitura, é possível fazer uma reflexão extremamente proveitosa e resgatar valores de extrema importância para a Filosofia. Além disso, ajuda na formulação do senso crítico e é um ótimo exercício de interpretação de texto. A relevância e atualidade do mito não surpreende: muitas informações denunciam a alienação humana, criam realidades paralelas e alheias. Mas até quando alguns escolherão o fundo da caverna? Será que é uma pré-disposição ao engano ou puro comodismo? O Mito da Caverna é um convite permanente à reflexão.